(1) Por ‘Deus’ se entende o máximo pensável; (2) ora, é maior existir na realidade do que apenas no entendimento; (3) logo, se o máximo pensável existisse apenas no entendimento, poder-se-ia pensar algo maior do que o máximo pensável, o que é absurdo. (4) Por conseguinte, o máximo pensável existe não apenas no entendimento, mas também na realidade.1
(1) O mais perfeito em dado gênero de coisas possui em grau sumo todas as perfeições de tal gênero (e.g., a ilha perfeitíssima); (2) ora, a existência é uma perfeição sem a qual nada pode ser o mais perfeito em seu próprio gênero; (3) logo, tudo o que é o mais perfeito em seu próprio gênero existe na realidade.2
(1) Aquilo que, sendo perfeitíssimo em seu gênero, pode ser pensado, sem contradição, como não existente em algum momento e lugar não existe necessariamente; (2) ora, o máximo pensável não pode, sem contradição, ser pensado como não existente em algum tempo e lugar; (3) logo, o máximo pensável existe necessariamente. Corolário: Por conseguinte, o argumento ontológico só se aplica ao caso de Deus.
(1) A proposição ‘Deus é’ é evidente quoad se, mas não quoad nos, porque não é imediatamente evidente à inteligência humana que o predicado ‘é’ esteja contido no sujeito ‘Deus’; logo, necessita ser demonstrada a posteriori, ou pelos efeitos, i.e. por demonstração quia. (2) Tampouco é certo que todos entendam por ‘Deus’ o máximo pensável, senão que há entre os homens diversas concepções de Deus. (3) Que não possa ser pensado senão como existente não implica que exista de fato, i.e. do plano lógico não se pode saltar para o real.3 Em suma, ‘Deus é’ pode ser necessário quoad se, mas é contingente quoad nos.
(1) Nada é mais verdadeiro do que as proposições tautológicas, i.e. da forma ; (2) ora, se Deus é Deus, então Deus existe, porque a essência divina é sua própria existência, assim como, e.g., se ‘o ótimo é ótimo’, então ótimo existe; (3) mas, em razão da premissa (1), não pode ser falso o antecedente ‘Deus é Deus’; (4) logo, Deus existe.4
(1) Se Deus é pensável sem contradição, então Deus é possível; (2) ora, Deus é pensável sem contradição; (3) logo, Deus é possível. (4) Mas se Deus é possível, então existe necessariamente, pois um ser infinito não pode ser meramente possível; (5) ora, em razão de (3), é o caso de que Deus é possível; (6) logo, Deus existe necessariamente.5